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segunda-feira, 22 de julho de 2013

A difícil arte de desapegar

   Mexer nas coisas velhas é muito difícil, ainda mais quando sua casa é o reino dos acumuladores. Difícil não pela quantidade de objetos, mas pela dor de quem não consegue desapegar. Acho que quanto mais primaveras a pessoa tem, mais difícil é. Imagino isso por causa das minhas duas avós, que sofrem para doar qualquer coisinha.
   Hoje foi dia de arrumar o maleiro do quarto da minha irmã. Seis portas de entulhos - ou lembranças - que não são tocados há 4 anos. Achamos coisas inacreditáveis lá dentro. O primeiro celular da minha mãe (da motorola com uma antena gigante), minha boneca preferida de quando eu era criança, algumas roupas, alguns brinquedos, cartas que o meu pai escreveu para minha mãe quando eles namoravam, o convite de casamento deles e logo depois a averbação da separação. Uma história inteira naquelas seis portas.
   Para mim, foi algo cansativo, divertido muitas vezes, mas levantar a poeira da nossa história às vezes incomoda. O que mais me incomodou, na verdade, foi a insistência de permanecer com aquelas coisas que não mais nos representam. Eu já fui várias daquelas coisas, mas hoje sou as que ficam comigo, que coloco no meu quarto para todos verem. O que escondo no maleiro ou no fundo do armário é simplesmente o que não quero mais, que deixei pra trás para seguir em frente. Esse espaço de seis portas que o passado ocupa atrapalha o futuro de entrar.
   Não vou mentir dizendo que não peguei nada daquele passado. Tenho aqui comigo minha boneca favorita de quando eu era criança, um bichinho chamado buluca que minha avó fez para mim e minha boneca da branca de neve do meu aniversário de 3 anos (os anões foram embora). No final, conseguimos deixar quatro portas vazias. Quatro portas que estão esperando mais história entrar para revirarmos depois e sentir aquela nostalgia paradoxalmente boa e ruim.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desabafo de uma revolucionária covarde

    Entrar no facebook tem me dado tristeza, e me estressado também. Com essa onda de manifestações pelo Brasil, meu feed de notícias são só denúncias, calamidades, violência, discussões políticas... Sinto falta das piadinhas. Às vezes penso que eu seria uma pessoa mais feliz se fosse alienada. Acho que a alienação faz bem à felicidade e à tranquilidade.
    Sou completamente a favor das manifestações, até queria ter ido em todas, mas acho que sou uma revolucionária covarde. Tenho realmente medo das violências que têm ocorrido nas manifestações. Acabei de realizar meu sonho (entrar na faculdade de Medicina) e não quero levar um tiro de bala de borracha no olho. Também tenho problemas respiratórios e gás lacrimogêneo não me faria bem. Desculpas esfarrapadas,  talvez, mas sou uma pessoa precavida e medrosa mesmo.
    Não me entendam mal. Não sou uma pessoa alienada, fútil, nojenta, egoísta etc. Queria sair por aí com meu cartaz clamando por justiça. Mentalmente e virtualmente estou fazendo isso. E sabe que mesmo sem ir às ruas eu me sinto violentada, cansada, saturada? A cada texto que leio me sinto sofrendo o que foi descrito. A cada foto que vejo me sinto lá, e isso já me desgasta demais. Mas sabe o que mais me violenta e  o que mais me desgasta? Saber que a cada notícia que leio, a cada depoimento, a cada foto, a cada qualquer coisa que é enviada pra mim, eu posso estar sendo manipulada. Não é ruim viver com esse sentimento? Afinal, onde está a verdade? Quem é bom ou ruim?
   Ato Médico, Cura Gay, Feliciano, Renan Calheiros, corrupção, SUS, educação, transporte, salário digno, salário absurdo para políticos, fome, médicos cubanos, Dilma, PT, PSDB, esquerda, direita, Globo, teorias conspiratórias... Estou cansada e sei que não sou só eu. Já estava cansada antes, frustrada, desacreditada desse país. Eis que surgiu o movimento, levantou a poeira, o gigante acordou (ou só levantou pra ir ao banheiro?), piadinhas sumiram, dezenas de coisas aconteceram. Acredito que acontecerá coisas boas com tudo isso, mas falam de golpe de estado, manipulação, que somos burros, que somos demais, que somos o quê, afinal? O que eu sou no meio dessa massa? O que eu acredito é certo? O que eu defendo é bom? Sou massa de manobra? Isso tudo deixa a minha cabeça a mil! Só eu que sinto isso?
    Sabe o que eu quero, de verdade? Quero poder trabalhar num SUS que não me deixe frustrada. Quero poder pedir exames para meus pacientes e ter leitos suficientes para eles. Quero trabalhar no interior sim, Dilma, mas quero olhar para os meus pacientes e poder tirar a dor e o sofrimento deles. Quero poder entregar meus filhos à uma educação decente e deixá-los andar de ônibus sem medo. Quero andar nas ruas a noite sem ficar olhando para todos os lados com medo de ser violentada. Quero investimento na população. Quero justiça aos animais. Quero justiça aos moradores de rua. Na verdade, não quero atravessar a cidade vendo aqueles humanos deitados em papelão. Quero paz para mim, para a minha família, para os meus vizinhos, para a minha cidade, para o meu país. Quero abrir um jornal e ver o quanto o meu país é abençoado. O que eu quero é demais? Não. É meu direito, é nosso direito.
    Tenho medo sim de ir às ruas pedir tudo isso e agradeço de coração as milhares de pessoas que têm feito isso por mim. Eu também estou na luta, do jeito que consigo estar, e é de corpo e alma. 
    
    Eis aqui o meu desabafo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crianças são cruéis

    Aparentemente são uns anjinhos e perto dos pais tendem a se comportar como um. No entanto, basta uma brechinha para que os chifrinhos apareçam na cabeça delas. Muito provável que você já tenha sofrido com uma, seja na escola ou seja atualmente.
    "Ah, deixa pra lá, é criança". Já ouviu ou disse isso? Eu já e, bem, eu não acho que isso seja uma desculpa. A criança sabe muito bem que está ofendendo uma pessoa. Quer uma prova? Tenho uma prima (8 anos) de segundo grau que é o capeta miniatura. Fiquei anos sem vê-la e quando vi fui super gentil, mas ela só agredia a mim e a meu namorado. "Feio", "gordo", "magricela" e "horroroso" foram só alguns dos xingamentos que recebemos em mais de um encontro. Digo sem medo que apelei com ela. Pronto, nunca mais nos atormentou.
    O nosso sofrimento com as crianças começa quando somos criança. A maldade recebeu um nome: bullying, mas não quero discutir sobre isso. O que quero mesmo é expor situações que comprovam o quanto as crianças são cruéis. Lembra do "quem quer brincar de pega-pega põe o dedo aqui, que já vai fechar..."? Pra mim está no top 5 maldade infantil. Atravessar a quadra correndo e chegar e não poder brincar porque não deu tempo de colocar seu dedinho lá é de uma crueldade sem fim. Isso sem falar do dia do brinquedo na escola. As crianças fazem questão de levar aquele brinquedo super legal e não deixar ninguém brincar. Acaba que um dia que era pra ser divertido e integrador se torna um festival de "inveje o meu brinquedo"
    Não vou mentir falando que fui uma criança super boazinha, mas conto minha maldade depois. Antes vamos falar de um trauma de muitas pessoas: a Educação Física. Sempre fui a última a ser escolhida, quer dizer, obrigada a entrar em um time. As meninas da minha sala me odiavam, mesmo, e quando tinha queimada elas focavam em me tirar do time. Vocês também sofreram nas aulas de Ed. Física? Também tínhamos um caderno para a aula de informática e quem não levasse perdia ponto. Os cadernos eram deixados na estante da sala normal e pegávamos para ir ao laboratório. As meninas da minha sala escondiam meu caderno no meio dos do turno da tarde para que eu perdesse os pontos. Descobri isso depois de muito tempo e toda aula eu tinha que ir procurar meu caderno e colocar na pilha certa. Quem me ajudava nessa tarefa é a minha atual amiga-irmã. Isso aconteceu na 3ª série, e não venha me dizer "ah, esquece, eram crianças".
    Quer saber minha maldade? Tive um colega que era muito feio e tinha os dentes enormes e bem pra frente. A sala o apelidou de "Dente", mas antes fosse só isso. Criamos a "doença do dente" e fugíamos do Dente (vulgo Iago) para não pegarmos a tal doença. Resumindo: ele ficava sozinho sempre. Isso foi na 4ª série, mas na 5ª eu já conversava com o Dente normalmente e sua doença já havia sido erradicada. O apelido ficou esse mesmo e acho que ele não se importava, pois estava sempre sorridente.
    As demais provas de que as crianças são realmente cruéis surgirão na sua cabeça com memórias da sua infância. Bom, agora pense duas vezes antes de relevar e dizer "Ah, deixa pra lá, é criança". 


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pela volta dos lanterninhas


    Há algum tempo tenho me irritado muito no cinema, desde os "cult" até os mais sofisticados. As pessoas estão muito sem educação, vocês não acham? E eu sei que somente com uma autoridade as pessoas se comportam melhor. Essa autoridade seria o meu tão sonhado lanterninha.
    Fui ver "Os Miseráveis" na quinta-feira (14/02) e passei muita raiva. O filme é maravilhoso e tinha tudo para ser um momento perfeito se não tivesse duas mulheres sem noção atrás de mim e do meu namorado. Sabe quando você precisa falar alguma coisa e cochicha bem baixinho para não incomodar os outros? Pois é, elas gritavam para falar uma com a outra. Mãe e filha sem educação. Sabe qual foi a pior fala delas? "Mãe, vamos embora porque não vai dar tempo de você ver sua novela". Se você não tem tempo pra ir ao cinema apreciar a arte, não vá! Sair no meio do filme é muito feio, além de ser um desperdício de dinheiro. Na verdade, a pior fala foi "Mãe, esse filme tá muito difícil, vamos embora". E se você pensa que era uma criança ou adolescente, engano seu.
    Já passei umas poucas e boas no cinema. Uma vez tinha um cara dormindo e roncando altíssimo na sala. Se quer dormir, vá para casa! Um caso cômico que tive a oportunidade de presenciar foi no cinema Usiminas Belas Artes (Belo Horizonte). Alguém abriu uma latinha de refrigerante e um cidadão estressado deu chilique falando "esse povo que vem pro cinema pra comer, vai tomar no cu!". Desnecessário, não? Sem contar que ainda estava no trailler.
    O que me irrita mais, no entanto, são as crianças e suas mães sem noção. Com certeza você já foi o escolhido para ter sua cadeira chutada o filme inteiro por uma criança pentelha. E o que a mãe faz? Fica irritada se reclamamos. Há também as mães que levam os filhos em filmes legendados, sendo que a criança nem sabe ler. O que acontecerá é óbvio. A criança ficará entediada, vai gritar, pedir pra ir embora, rir alto etc. E a mãe? Não faz nada. Sinceramente, se você é mãe e está lendo isso, dê um jeito no seu filho. E saiba que minha raiva não é com a criança, mas com você que não educa.
    Tenho certeza que você se identificou com algum desses casos e já se irritou demais no cinema também. E esqueci de citar aqueles adolescentes que dão spoiler no meio do filme ou ficam gritando só pra irritar os outros, mesmo. Cinema é um lugar para apreciar a arte em um momento de relaxamento e diversão, meus caros. Respeite esse espaço e quem pagou para assistir. 

Se você não sabe ir ao cinema, não vá!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Prisão tecnológica

   Se tem uma coisa que está me irritando muito ultimamente é a cobrança das pessoas para estarmos sempre disponíveis para conversar. Tenho um facebook, um smartphone com 3G e um número de telefone, mas não é por isso que estou conectada o dia inteiro. 
   Quando ganhei meu smartphone (julho de 2012) fiquei empolgada e respondia rapidamente as coisas no facebook, fazia check-in no foursquare e tirava foto para o instagram. Hoje, no entanto, tenho preguiça de ligar o 3G por dois motivos. Um deles é que meu celular não para de notificar atualizações das minhas redes sociais (que nem são tantas: facebook, instagram, foursquare e twitter - que nem uso direito) e de atualizar aplicativos. O outro motivo é que a conexão da Claro é horrível e me dá preguiça de esperar mais de 1 minuto para a internet conectar e me atormentar.
   O que está acontecendo, não só comigo, é a exigência de respondermos mensagens prontamente e atender o telefone a qualquer hora. Apesar de vivermos em um mundo tecnológico, não estamos em função dele o dia inteiro. Temos aula, trabalhamos, tomamos banho, comemos, assistimos um filme, escutamos música, pensamos na vida, dormimos, passeamos, lemos, arrumamos a casa, jogamos videogame, ficamos com nossos bichos de estimação, vamos ao supermercado etc. Sinceramente, não paro diversas dessas atividades para atender o telefone. Sem contar que muitas vezes não quero falar com você naquele momento.
   O pior disso tudo é termos que dar satisfação para as pessoas (sem ser pai, mãe, irmão, namorado) do porquê de não termos atendido o telefone ou respondido uma mensagem no facebook. Não atendi e não respondi porque não sou obrigada a ficar colada com meu celular. Os aparelhos foram feitos para facilitar a comunicação, não para obrigar a estabelercemos uma. 
   Para finalizar ainda digo: eu tenho um celular da Claro e falo de graça com quem é dessa operadora. Não é só porque você é Vivo que eu tenho que arrumar um chip da Vivo pra você me atormentar. 



sábado, 26 de janeiro de 2013

Aquela praça

       Passei por aquela praça que me traz tantas lembranças. Aquela praça onde tantas coisas aconteceram. Aquela praça que sabe mais de mim do que eu mesma.
       Dia, tarde e noite. Choro, riso, angústia e esperança. Criança, adolescente e adulta. Sóbria e alcolizada. Sozinha e acompanhada. Solteira, ficando e namorando. Ela me viu de todas as formas e em cada uma delas eu tive o prazer de estar ali. 
       Vontade de voltar e sentir todos os cheiros de novo. Saudade das companhias e das peripécias. Tanta gente que passou, tanto vinho compartilhado, tantas histórias contadas. Não havia distinção: mendigo, classe média e ricos rebeldes no mesmo lugar trocando palavras. Aprendizados que não se adquirem em casa.
       Lembro como se fosse hoje da tristeza que me bateu, lágrimas na chuva fina, um banco só meu. Um homem passou e me ofereceu um abraço. Abraço sincero, homem simples, algumas palavras de conforto. Estava pronta pra voltar pra casa e encarar o dia seguinte.
       Passar por aquela praça dói. E dói por ver aquelas pessoas fazendo o que eu fazia. Me vejo nelas e penso: o que será que elas vão ser? Eu não me projetava como sou, mas quando não temos planos, a vida toma conta da gente.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Saudade


                Os cigarros e o café estavam na mesinha redonda ao lado do sofá reclinável e ela parada, olhando o movimento da cidade pela janela. Era um dia nublado como ela gostava, passava um filme na televisão e o gato a rodeava a pedido de comida, ou de carinho, como ela preferia acreditar. Carinho, na verdade, que ela precisava. Do amor perdido, talvez, ou dela mesma.
                Saudade. Saudade do que havia sido. Saudade dos seus sonhos. Saudade da sua garra. Saudade dele. Saudade de ouvir doçuras. Saudade de não precisar de ninguém. Saudade dos braços dele. Havia perdido o estímulo e a única coisa que tinha era o gato. Um cigarro depois de alimentá-lo e acariciá-lo, um café, olheiras e a inveja do eterno sono do bichano.
                Tinha planos. Planos de estudo e de carreira, a decoração da casa onde morariam. Iniciariam a academia juntos, a dieta, o francês. Deixou de amá-lo de repente. Não tinha outro, apenas vazio e vazio maior ainda quando o largou. Necessita dele, de dormir de conchinha, um abraço, um cinema, um lanche, uma surpresa, mas não consegue sustentar. Seu coração não pulsa como antes, não há arrepios, só saudade. Saudade do que não aconteceu, saudade de amá-lo, saudade de tudo.